DICAS DE GEOGRAFIA
URBANIZAÇÃO BRASILEIRA
04/10/2016 21:41URBANIZAÇÃO
As raízes da urbanização brasileira são decorrentes da história, os primeiros centros urbanos surgiram no século XVI, ao longo do litoral em razão da produção do açúcar, nos séculos XVII e XVIII, a descoberta de ouro fez surgir vários núcleos urbanos e no século XIX a produção de café foi importante no processo de urbanização, em 1872 a população urbana era restrita a 6% do total de habitantes.
Posteriormente, no início de século XX, a indústria foi um instrumento de povoamento, a partir da década de 1930, o país começou a industrializar-se, como o trabalho no campo era duro e a mecanização já provocava perda de postos de trabalho, grande parte dos trabalhadores rurais foram atraídos para as cidades com intuito de trabalhar no mercado industrial que crescia. Esse êxodo rural elevou de forma significativa o número de pessoas nos centros urbanos. Atualmente 80% da população brasileira vive nas cidades, apesar disso o Brasil é um país urbano, industrial e agrícola.
O processo de urbanização no Brasil teve início no século XX, a partir do processo de industrialização, que funcionou como um dos principais fatores para o deslocamento da população da área rural em direção a área urbana. Esse deslocamento, também chamado de êxodo rural, provocou a mudança de um modelo agrário-exportador para um modelo urbano-industrial. Atualmente, mais de 80% da população brasileira vive em áreas urbanas, o que equivale aos níveis de urbanização dos países desenvolvidos.
Até 1950 o Brasil era um país de população, predominantemente, rural. As principais atividades econômicas estavam associadas à exportação de produtos agrícolas, dentre eles o café. A partir do início do processo industrial, em 1930, começou a se criar no país condições específicas para o aumento do êxodo rural. Além da industrialização, também esteve associado a esse deslocamento campo-cidade, dois outros fatores, como a concentração fundiária e a mecanização do campo.
Ao longo das décadas a população brasileira cresceu de forma significativa, ao passo desse crescimento as cidades também tiveram sua aceleração em relação ao tamanho, formando imensas malhas urbanas, ligando uma cidade a outra e criando as regiões metropolitanas (agrupamento de duas ou mais cidades).
Em 1940, apenas 31% da população brasileira vivia em cidades. Foi a partir de 1950 que o processo de urbanização se intensificou, pois com a industrialização promovida por Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek houve a formação de um mercado interno integrado que atraiu milhares de pessoas para o Sudeste do país, região que possuía a maior infraestrutura e, consequentemente, a que concentrava o maior número de indústrias.
Gráfico com taxa de urbanização (Foto: IBGE)
A partir de 1970, mais da metade dos brasileiros já se encontrava em áreas urbanas, cuja oferta de emprego e de serviços, como saúde, educação e transporte, eram maiores. Em 60 anos, a população rural aumentou cerca de 12%, enquanto que a população urbana passou de 13 milhões de habitantes para 138 milhões, um aumento de mais de 1.000%.
Na década de 1970 o número de habitantes morando nas cidades foi, pela primeira vez, maior do que a população que vivia na zona rural. Esse crescimento do meio urbano proporcionalmente maior do que o do meio rural recebe o nome de Urbanização e no Brasil se iniciou no século XIX, intensificando-se a partir de 1920, motivados, principalmente, pela:
·
- implantação de indústrias nas cidades brasileiras, que atraiu muitas pessoas da zona rural para a urbana em busca de trabalho e melhores condições de vida, provocando assim o êxodo rural brasileiro.
· - implantação de máquinas nas atividades do meio agrário, que substituíram a mão de obra assalariada, que sem trabalho migrou para as grandes cidades.
· - concentração de terras na mãos de poucos proprietários, que tinham como comprar as máquinas e produtos agrícolas.
· - migração dos pequenos proprietários de terras para as cidades em busca de trabalho assalariado nas indústrias.
· - crescimento vegetativo da população brasileira, que cresceu muito nesse período.
- A construção de novas vias, a partir do modelo rodoviário de transporte, facilitou o processo migratório e o acesso aos centros urbanos.
- Os valores da vida urbana vão ser amplamente disseminados pelos meios de comunicação, principalmente rádio e televisão, como forma de seduzir a população rural a migrar para a cidade. Os excluídos do campo criam perspectiva em relação ao espaço urbano e acabam se inserindo no espaço urbano no circuito Inferior da Economia (mercado informal).
- Apesar do contínuo processo de metropolização, é possível perceber na atualidade que a região Sudeste brasileira enfrenta o processo de desmetropolização, ou seja, a redução do ritmo de crescimento de algumas metrópoles, a exemplo de São Paulo, que passa a apresentar um ritmo de crescimento mais lento em relação a algumas cidades médias do interior.
- Crescimento de cidades médias em função da desconcentração dos investimentos produtivos (desconcentração industrial), buscando maiores vantagens para a indústria, como isenção fiscal, terrenos e mão de obra mais baratos para a indústria, fuga dos congestionamentos das metrópoles, entre outros, além da migração da população das grandes metrópoles que buscam qualidade de vida em cidades médias.
- Crescimento do setor terciário, devido à diminuição das indústrias nos grandes centros urbanos, fazendo com que essa camada de mão de obra seja absorvida pelo setor de serviços e comércio. Essa nova realidade vai transformar a paisagem urbana, com a diminuição das indústrias e o crescimento de shoppings e centros empresariais.
DESIGUALDADES
As desigualdades econômicas e a dificuldade de determinadas regiões em se inserirem na economia nacional, possibilitou a ocorrência de uma urbanização diferenciada em cada uma das regiões brasileiras.
A região Sudeste, por concentrar a maior parte das indústrias do país, foi a que recebeu grandes fluxos migratórios vindos da área rural, principalmente da região nordeste. Ao analisarmos a tabela abaixo, observamos que o Sudeste é a região que apresenta as maiores taxas de urbanização dos últimos 70 anos. A partir de 1960, com 57%, foi a primeira região a registrar uma superioridade de habitantes vivendo na área urbana em relação à população rural.
Na região Centro-Oeste, o processo de urbanização teve como principal fator a construção de Brasília, em 1960, que atraiu milhares de trabalhadores, a maior parte deles vindos das regiões Norte e Nordeste. Desde o final da década de 1960 e início da década de 1970, o Centro-Oeste tornou-se a segunda região mais urbanizada do país.
Taxa de Urbanização das Regiões Brasileiras (IBGE)
Região |
1940 |
1950 |
1960 |
1970 |
1980 |
1991 |
2000 |
2007 |
2010 |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Brasil |
31,24 |
36,16 |
44,67 |
55,92 |
67,59 |
75,59 |
81,23 |
83,48 |
84,36 |
Norte |
27,75 |
31,49 |
37,38 |
45,13 |
51,65 |
59,05 |
69,83 |
76,43 |
73,53 |
Nordeste |
23,42 |
26,4 |
33,89 |
41,81 |
50,46 |
60,65 |
69,04 |
71,76 |
73,13 |
Sudeste |
39,42 |
47,55 |
57 |
72,68 |
82,81 |
88,02 |
90,52 |
92,03 |
92,95 |
Sul |
27,73 |
29,5 |
37,1 |
44,27 |
62,41 |
74,12 |
80,94 |
82,9 |
84,93 |
Centro Oeste |
21,52 |
24,38 |
34,22 |
48,04 |
67,79 |
81,28 |
86,73 |
86,81 |
88,8 |
A urbanização na região Sul foi lenta até a década de 1970, em razão de suas características econômicas de predomínio da propriedade familiar e da policultura, pois um número reduzido de trabalhadores rurais acabava migrando para as áreas urbanas.
A região Nordeste é a que apresenta hoje a menor taxa de urbanização no Brasil. Essa fraca urbanização está apoiada no fato de que dessa região partiram várias correntes migratórias para o restante do país e, além disso, o pequeno desenvolvimento econômico das cidades nordestinas não era capaz de atrair a sua própria população rural.
Até a década de 60 a Região Norte era a segunda mais urbanizada do país, porém a concentração da economia do país no Sudeste e o fluxo de migrantes dessa para outras regiões, fez com que o crescimento relativo da população urbana regional diminuísse.
Mapa com grau de urbanização. (Foto: IBGE)
PROBLEMAS URBANOS
O rápido e desordenado processo de urbanização ocorrido no Brasil irá trazer uma série de consequências, e em sua maior parte negativas. A falta de planejamento urbano e de uma política econômica menos concentradora irá contribuir para a ocorrência dos seguintes problemas:
Favelização – Ocupações irregulares nas principais capitais brasileiras, como Rio de Janeiro e São Paulo, serão fruto do grande fluxo migratório em direção às áreas de maior oferta de emprego do país. A falta de uma política habitacional acabou contribuindo para o aumento acelerado das favelas no Brasil.
Violência Urbana – Mesmo com o crescimento industrial do país e com a grande oferta de emprego nas cidades do sudeste, não havia oportunidades de emprego o bastante para o grande fluxo populacional que havia se deslocado em um curto espaço de tempo. Por essa razão, o número de desempregados também era grande, o que passou a gerar um aumento dos roubos, furtos, e demais tipos de violência relacionadas às áreas urbanas.
Poluição – O grande número de indústrias, automóveis e de habitantes vai impactar o aumento das emissões de gases poluentes, assim como com a contaminação dos lençóis freáticos e rios dos principais centros urbanos.
Enchentes – A impermeabilização do solo pelo asfaltamento e edificações, associado ao desmatamento e ao lixo industrial e residencial, fazem com que o problemas das enchentes seja algo comum nas grandes cidades brasileiras.
O crescimento desenfreado dos centros urbanos provoca consequências, como o trabalho informal e o desemprego decorrente de sucessivas crises econômicas. Outro problema muito grave provocado pela urbanização sem planejamento é a marginalização dos excluídos que habitam áreas sem infraestrutura (saneamento, água tratada, pavimentação, iluminação, policiamento, escolas e etc.) e junto a isso a criminalidade (tráfico de drogas, prostituição, sequestros etc.).
VEJA TAMBÉM: URBANIZAÇÃO
Por Leonardo Delfim Gobbi
Graduado em Geografia pela UFF
Por: Eduardo de Freitas em Geografia Urbana
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