DICAS DE GEOGRAFIA
URBANIZAÇÃO
04/10/2016 20:52Urbanização é o crescimento das cidades, tanto em população quanto em extensão territorial. É o processo em que o espaço rural transforma-se em espaço urbano, com a consequente migração populacional do tipo campo-cidade que, quando ocorre de forma intensa e acelerada, é chamada de êxodo rural.
Em termos de área territorial, no mundo atual, o espaço rural é bem mais amplo do que o espaço urbano. Isso ocorre porque o primeiro exige um maior espaço para as práticas nele desenvolvidas, como a agropecuária (espaço agrário), o extrativismo mineral e vegetal, além da delimitação de áreas de preservação ambiental e florestas em geral.
No entanto, em termos populacionais e em atividades produtivas no contexto econômico e capitalista, a cidade, atualmente, vem se sobrepondo ao campo. Observe o gráfico abaixo:
Podemos perceber, com a leitura do gráfico que, pela primeira vez na história, a humanidade está se tornando majoritariamente urbana. Os dados após 2010 são apenas estimativas (embora existam muitas desconfianças em termos políticos sobre as projeções realizadas pela ONU), mas revelam que a tendência desse processo é se intensificar nas décadas subsequentes. Note também, observando o gráfico, que a velocidade com que a urbanização acontece é cada vez maior, deixando a curva que representa a população urbana cada vez mais acentuada.
O processo de formação das cidades ocorre desde os tempos do período neolítico. No entanto, sob o ponto de vista estrutural, elas sempre estiveram vinculadas ao campo, pois dependiam deste para sobreviver. O que muda no atual processo de urbanização capitalista, que se intensificou a partir do século XVIII, é que agora é o campo quem passa a ser dependente da cidade, pois é nela que as lógicas econômico-sociais que estruturam o meio rural são definidas.
O processo de urbanização no contexto do período industrial estrutura-se a partir de dois tipos de causas diferentes: os fatores atrativos e os fatores repulsivos.
Os fatores atrativos, como o próprio nome sugere, são aqueles em que a urbanização ocorre devido às condições estruturais oferecidas pelo espaço das cidades, o maior deles é a industrialização.
Esse processo é característico dos países desenvolvidos, onde o processo de urbanização ocorreu primeiramente. Cidades como Londres e Nova York tornaram-se predominantemente urbanas a partir da década de 1900, início do século XX, em razão da quantidade de empregos e condições de moradias oferecidas (embora em um primeiro momento, a maior parte dessas moradias fosse precária em comparação aos padrões de desenvolvimento atual dessas cidades).
Os fatores repulsivos são aqueles em que a urbanização ocorre não em função das vantagens produtivas das cidades, mas graças à “expulsão” da população do campo para os centros urbanos. Esse processo ocorre, em geral, pela modernização do campo que propiciou a substituição do homem pela máquina e pelo processo de concentração fundiária, que deixou a maior parte das quantidades de terras nas mãos de poucos latifundiários.
Esse fenômeno é característico dos países subdesenvolvidos e é marcado pela elevada velocidade em que o êxodo rural aconteceu, bem como pela concentração da população nas metrópoles (metropolização). Tais cidades não conseguem absorver esse quantitativo populacional, propiciando a formação de favelas e habitações irregulares, geralmente precarizadas e sem infraestrutura.
Resumidamente, o processo de urbanização ocorre em quatro principais etapas, sofrendo algumas poucas variações nos diferentes pontos do planeta:
Em geral, o que se observa, portanto, é a industrialização funcionando como um motor para a urbanização das sociedades (1ª ponto do esquema acima). Em seguida, ampliam-se as divisões econômicas e produtivas, com o campo produzindo matérias-primas, e as cidades produzindo mercadorias industrializadas e realizando atividades características do setor terciário (2º ponto). Esse processo é acompanhado por um elevado êxodo rural, com a formação de grandes metrópoles e, em alguns casos, até de megacidades, com populações que superam os 10 milhões de habitantes (3º ponto). Por fim, estrutura-se a chamada hierarquia urbana, que vai desde as pequenas e médias cidades às grandes metrópoles.
Vale lembrar que o esquema acima é apenas ilustrativo, pois a sequência desses acontecimentos não é linear, muitas vezes os fenômenos citados acontecem ao mesmo tempo.
Outra ressalva importante é a de que tal sequência não acontece de forma igualitária em todo o mundo. Nos países pioneiros no processo de urbanização, ela ocorre de forma mais lenta e gradativa, enquanto nos países de industrialização tardia, tal processo manifesta-se de forma mais acelerada, o que gera maiores problemas estruturais.
CIDADE
Quando pensamos em urbanização, a primeira relação que nós procuramos estabelecer é com o conceito de cidade, afinal o significado dessa palavra, em latim, é urbs. Mas afinal, o que é uma cidade? Existem diferentes formas de trabalharmos esse conceito, mas podemos definir cidade como sendo a concentração de um grande número de pessoas em uma determinada porção do espaço geográfico, onde nela se estabelecem relações sociais, econômicas e de prestação de serviços.
Podemos definir cidade utilizando dois critérios:
- demográfico-quantitativo
- político-administrativo
De acordo com o critério demográfico-quantitativo, a existência ou não de uma cidade está diretamente relacionado ao número de habitantes que essa possui. Cada país pode estabelecer um número específico para a definição de cidade. Ex: No Canadá, se um território possuir 1.000 habitantes este já pode ser considerado uma cidade. Na França, esse número passa para 2.000 habitantes e na Grécia, 10.000 habitantes.
Já o critério político-administrativo, que é utilizado no Brasil, não leva em consideração um número específico de habitantes, basta que seja sede de um município. Ex: Rio de Janeiro (cidade) possui, aproximadamente, 16 milhões de habitantes e Teresópolis, também no estado do Rio de Janeiro, possui cerca de 296 mil habitantes. Embora tamanha diferença populacional, ambas são consideradas cidades.
HISTÓRICO
As cidades mais antigas teriam surgido a cerca de seis mil anos, ao logo dos vales dos rios Tigres e Eufrates, Nilo e Indo. Nessa época, as cidades já possuíam certa importância política, econômica e social, porém, só será a partir do século XVIII que o processo de urbanização terá início.
O processo de urbanização está diretamente relacionado ao aumento da população urbana em relação à população rural. Portanto, quando a população de um determinado lugar supera os 50% do total de habitantes, dizemos que esse espaço é urbanizado.
Por volta de 1800, apenas 3% da população encontrava-se na área urbana. Mas a partir da 1ª Revolução Industrial o deslocamento da população do campo para as cidades em busca de emprego aumentou. Funcionavam como fatores de repulsão da área rural: baixos salários agrícolas, concentração fundiária e mecanização do campo.
Em meados do século XIX, durante a 2ª Revolução Industrial, cerca de 15% da população mundial já se encontrava vivendo em cidades. Nos centros urbanos os fatores de atração não se resumiam ao processo de industrialização, mas também a expansão do setor de serviços.
ATUALIDADE
Atualmente, mais da metade da população mundial vive em cidades e o modo de vida urbano-industrial foi o principal responsável pelo deslocamento de grande parcela da população das áreas rurais. Nos países da América do Norte e Europa, a urbanização atingiu níveis elevadíssimos. Existem países que ultrapassam os 90% de urbanização, que é o caso da Bélgica, como podemos observar na tabela abaixo. Já na Ásia e África, os níveis de urbanização são muito baixos, pois a maior parte da população ainda vive na área rural, em função da economia desses países ainda estar baseada em atividades do setor primário.
TAXAS DE URBANIZAÇÃO (%) |
|||||||
Países desenvolvidos |
Países subdesenvolvidos |
||||||
País |
1960 |
1992 |
2000 |
País |
1960 |
1992 |
2000 |
Bélgica |
92 |
97 |
97 |
Cingapura |
100 |
100 |
100 |
Países Baixos |
85 |
89 |
89 |
Hong Kong |
85 |
94 |
96 |
Alemanha |
76 |
86 |
88 |
Argentina |
74 |
87 |
89 |
Reino Unido |
86 |
89 |
90 |
Chile |
68 |
84 |
85 |
Austrália |
81 |
85 |
85 |
Coréia do Sul |
28 |
77 |
86 |
Japão |
63 |
77 |
78 |
Brasil |
45 |
76 |
81 |
Canadá |
69 |
77 |
77 |
México |
51 |
74 |
78 |
Estados Unidos |
70 |
76 |
78 |
Malásia |
27 |
51 |
57 |
Rússia |
54 |
75 |
78 |
África do Sul |
47 |
50 |
53 |
França |
62 |
73 |
73 |
China |
19 |
28 |
35 |
Itália |
59 |
67 |
67 |
Índia |
18 |
26 |
29 |
PAÍSES DESENVOLVIDOS E SUBDESENVOLVIDOS
O processo de urbanização dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos apresenta diferenças significativas e que estão diretamente relacionadas ao processo de industrialização.
Nos países desenvolvidos, o processo de industrialização passou por diferentes etapas (1ª, 2ª e 3ª Revoluções Industriais), e foi evoluindo gradativamente. Consequentemente, o processo de urbanização acompanhou esse ritmo de desenvolvimento, fazendo com que milhares de pessoas fossem migrando para as cidades ao longo de todo esse processo. Portanto, podemos concluir que a urbanização nos países desenvolvidos ocorreu de maneira lenta e gradativa, assim como a industrialização, contribuindo para a criação de infraestruturas urbanas.
Urbanização do mundo
Já nos países subdesenvolvidos, a urbanização também acompanhou o ritmo da industrialização, porém como esse processo ocorreu em um curto espaço de tempo, foi possível perceber que a urbanização ocorreu de maneira rápida e desordenada. Sendo assim, as cidades que ao receberem grandes fluxos migratórios, não se encontravam preparadas para o rápido crescimento urbano, o que causou a formação de espaços segregados. As favelas são uma característica marcante desses espaços, onde se observa a reduzida oferta de água encanada, rede de esgoto e pavimentação de vias.
Outros problemas encontrados nas cidades dos países subdesenvolvidos são: os elevados índices de desemprego; aumento da violência urbana e da economia informal.
Nos últimos anos, temos observado uma mudança no perfil das cidades com maiores concentrações urbanas no mundo. De acordo com a tabela abaixo, durante a década de 1970, as maiores concentrações populacionais encontravam-se em cidades de países desenvolvidos. Das dez maiores concentrações urbanas seis localizavam-se em cidades do Estados Unidos, Europa e Japão. Atualmente, essa realidade mudou. Nas projeções feitas para 2015, das dez maiores cidades do mundo, em termos populacionais, oito estarão localizadas em países da África e Ásia.
Maiores concentrações urbanas, 1970 e 2015 (População - em milhões) |
|||||
1970 |
2015 |
||||
1 |
Tókio, Japão |
16,5 |
1 |
Mumbai, Índia |
28,2 |
2 |
Nova York, Estados Unidos |
16,2 |
2 |
Tóquio, Japão |
26,4 |
3 |
Xangai, China |
11,2 |
3 |
Lagos, Nigéria |
23,2 |
4 |
Osaka, Japão |
9,4 |
4 |
Daca, Bangladesh |
23,0 |
5 |
Cidade do México, México |
9,1 |
5 |
São Paulo, Brasil |
20,4 |
6 |
Londres, Inglaterra |
8,6 |
6 |
Karachi, Paquistão |
19,8 |
7 |
Paris, França |
8,5 |
7 |
Cidade do México, México |
19,2 |
8 |
Buenos Aires, Argentina |
8,4 |
8 |
Nova Delhi, Índia |
17,8 |
9 |
Los Angeles, Estados Unidos |
8,4 |
9 |
Nova York, Estados Unidos |
17,4 |
10 |
Pequim, China |
8,1 |
10 |
Jacarta, Indonésia |
17,3 |
Fonte: Martin B. Brockerhoff, An Urbanizing World. (Population Reference Bureau, Washington, DC, 2000) apud Deool (2006) |
VEJA TAMBÉM: URBANIZAÇÃO BRASILEIRA
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¹ Fonte: United Nations. Economic & Social Affairs. New York, 2007, p.15 (com adaptações).
Por Rodolfo Alves Pena
Graduado em Geografia
Por Leonardo Delfim Gobbi
Graduado em Geografia pela Universidade Federal Fluminense
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