DICAS DE GEOGRAFIA


Terrorismo no Oriente Médio: O Avanço do Estado Islâmico

10/09/2014 20:53

Conheça o Estado Islâmico, grupo radical com milhares de combatentes

Insurgentes surgiram a partir de braço iraquiano da al-Qaeda.
Eles lançaram ofensiva no norte do Iraque, dominando cidades e províncias.

 

O Estado Islâmico do Iraque e Levante (EIIL) - atualmente chamado apenas de Estado Islâmico (EI) - é um grupo jihadista radical que conseguiu recrutar milhares de combatentes. Conheça mais sobre sua história.

Fundação
O EI surgiu a partir do Estado Islâmico no Iraque, o braço iraquiano da Al-Qaeda dirigido por Abu Bakr al-Bagdadi. Em abril de 2013, Bagdadi anunciou que o Estado Islâmico do Iraque e a Frente Al-Nosra, um grupo jihadista presente na Siria, se fundiriam para se converter no Estado Islâmico do Iraque e Levante.

Mas a Al-Nosra negou-se a aderir a este movimento e os dois grupos começaram a agir separadamente até o início, em janeiro de 2014, de uma guerra entre eles.

O EI contesta abertamente a autoridade do chefe da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, e rejeitou seu pedido de que se concentre no Iraque e deixe a Síria para a Al-Nosra.

Efetivos
Charles Lister, pesquisador do Brookings Doha Centre, estima que o EI tenha entre 5 mil e 6 mil combatentes no Iraque e entre 6 mil e 7 mil na Síria.

Estes números não podem ser confirmados por outras fontes.

Nacionalidades
Na Síria, a maioria dos combatentes em terra são sírios, mas seus comandantes costumam chegar do exterior e lutaram em Iraque, Chechênia, Afeganistão e em outras frentes. No Iraque, a maioria dos combatentes são iraquianos.

Segundo o islamólogo Romain Caillet, do Instituto francês de Oriente Médio, muitos de seus chefes militares são iraquianos ou líbios, enquanto os líderes religiosos são sauditas ou tunisianos.

O EI também conta com centenas de combatentes francófonos, como franceses, belgas e magrebinos.

Ideologia
O EI nunca jurou lealdade ao chefe da Al-Qaeda, mas o grupo defende o mesmo tipo de ideologia jihadista e anunciou ter instaurado um Estado Islâmico em uma região situada entre a Síria e o Iraque.

Padrinhos
O EI não parece contar com o apoio de nenhum Estado e, segundo os analistas, recebe a maior parte de seus fundos de doadores individuais, em sua maioria oriundos do Golfo Pérsico. No Iraque, o grupo também depende de personalidades tribais locais.

Presença
O EI tomou em janeiro, junto com outros grupos insurgentes, o controle de Fallujah e de setores de Ramadi, a oeste de Bagdá.

Na Síria é considerado a força combatente mais eficaz contra o regime do presidente Bashar al-Assad.

Mas depois de ter sido acolhido favoravelmente por alguns rebeldes sírios, acabou pegando em armas contra eles.

Esta mudança se deveu a sua vontade hegemônica e às atrocidades que são atribuídas ao grupo, sobretudo o sequestro e a execução de civis e de rebeldes de movimentos rivais.

Entenda as razões que levaram a um novo conflito no Iraque

Grupo extremista quer criar Estado islâmico na fronteira do Iraque com a Síria.
Confronto está relacionado à antiga rivalidade de duas linhas do islamismo.

Iraquianos da minoria Yazidi abandonam suas casas e fogem para a Síria para escapar da violência dos jihadistas na cidade de Sinjar. (Foto: Rodi Said/Reuters)

 

 

ESTADO ISLÂMICO

O que está por trás do grupo radical.

O conflito mais recente no Iraque teve início com um grupo de insurgentes que começou a tomar cidades do norte do país e avançar em direção à capital Bagdá. Apesar de novo, esse conflito tem origem em uma rivalidade antiga entre sunitas e xiitas – dois ramos do islamismo que, pelas mãos de extremistas, já protagonizaram diversos conflitos e atentados na região do Iraque.

Os sunitas são a corrente majoritária do islamismo, considerados mais moderados na interpretação das escrituras sagradas, além de conciliadores e pragmáticos na política. Já os xiitas acreditam que adotar uma postura mais rígida na vida levaria ao retorno do último descendente de Maomé para governar a humanidade.

O Estado Islâmico (EI), nome do grupo que tem espalhado o terror na região, se diz sunita, porém seus membros têm adotado uma postura radical e violenta para alcançar seu objetivo: criar um estado sunita em um território na fronteira do Iraque com a Síria, governado com base na lei islâmica, a Sharia.

Os sunitas dominaram o Iraque até a invasão dos Estados Unidos e a queda de Saddam Hussein – que fez com que se instalasse um governo xiita. Insatisfeitos, eles começaram protestando pacificamente em 2012, mas com poucos resultados.

A marginalização dos cerca de 5 milhões de sunitas iraquianos fez com que eles passassem a ser mais simpáticos às ações armadas do EI – antes conhecido como Estado Islâmico do Iraque e Levanta (EIIL ou ISIS, na sigla em inglês).

Após a retirada das tropas americanas do Iraque em 2011, o grupo, que ganhou força na sua atuação no conflito da Síria e conquistou territórios por lá, passou a avançar sobre o norte iraquiano.

Em 29 de junho, o EI proclamou um califado nas áreas invadidas, e pediu a todos os muçulmanos que jurassem fidelidade ao seu líder, Abu Bakr al-Bagdadi, eleito califa – que significa, literalmente, o sucessor do profeta como chefe da nação e líder da comunidade muçulmana.

Foto de jihadista em suposta execução no Iraque
(Foto: AFP Photo/HO/Welayat Salahuddin)

O grupo extremista considera os xiitas infiéis que merecem ser mortos. Aos não muçulmanos, oferecem a "conversão ou a morte".

Sua violenta ofensiva tem o apoio de sunitas descontentes com o governo de Bashar Al-Assad na Síria e também com o governo iraquiano xiita. Criado em 2004 como um braço da Al-Qaeda no Iraque, hoje o EI é considerado mais radical que a própria rede terrorista a qual era ligado.

Os membros do EI são chamados de jihadista, nome dado aqueles que promovem a jihad – expressão traduzida no Ocidente como “guerra santa”. A jihad tem, originalmente, um significado mais espiritual. Porém com o tempo, passou a designar também a luta armada para impor um estado islâmico ou para combater aqueles considerados inimigos do islã.

 

Entenda o que é um califado

Jihadistas sunitas proclamaram criação de um califado entre Iraque e Síria.
Termo significa sucessão em árabe, como um novo sistema de governo.islâmico  por trás do grupo radical

Os jihadistas sunitas que proclamaram a criação de um califado nas zonas conquistadas do Iraque e Síria se apresentam como herdeiros de um regime que existiu da época do profeta Maomé até um século atrás.

O Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), que a partir de agora se chama Estado Islâmico (EI), pediu a todos os muçulmanos que jurem lealdade a seu chefe, proclamado califa, o que representa uma ameaça para o papel da Al-Qaeda na causa jihadista mundial.

 

O que é um califado?
Depois da morte do profeta Maomé, em 632, seus seguidores concordaram com a criação do califado, que significa sucessão em árabe, como um novo sistema de governo.

O califa é literalmente o sucessor do profeta como chefe da nação e líder da 'umma', comunidade de muçulmanos, e tem o poder de aplicar a lei islâmica (sharia) na terra do Islã.

Uma eleição em duas etapas escolheu o primeiro califa: os representantes das comunidades muçulmanas o designaram antes que seu nome fosse proposto ao povo para que lhe jurasse lealdade.

No entanto, desde o primeiro dia, existe uma disputa entre os muçulmanos sobre o conceito de califado, que se mantém principalmente como um sistema sunita. Os xiitas acham que o primo e genro de Maomé, Ali Ibn Abi Talib, e seus descendentes têm o direito divino de dirigir os muçulmanos depois da morte do profeta.

Os sucessivos califas expandiram o império islâmico do oeste até a atual Arábia Saudita.

A expansão do território do Islã sempre representou uma parte do papel do califado. Por exemplo, em seu apogeu, o Império Otomano abarcava o Oriente Médio e o norte da África, o Cáucaso e partes do leste da Europa.

Quanto tempo esteve vigente o califado?
Para os muçulmanos mais fervorosos, o califado durou até sua abolição na Turquia como consequência do desaparecimento do Império Otomano depois da Primeira Guerra Mundial.

No entanto, acredita-se que o califado tenha durado apenas três décadas, durante o governo dos primeiros quatro sucessores de Maomé, conhecido como os Quatro Califas Bem Guiados ou os Quatro Califas Ortodoxos.

Posteriormente, várias dinastias lutaram pelo poder e governaram os territórios do vasto império, como os Omíadas em Damasco (661-750), os Abássida em Bagdá (750-1258), os Omíadas em Córdoba (929-1031) e os Otomanos na Turquia (1453-1924).

Apesar de os dirigentes destas dinastias adotarem o título de califa, os processos de sucessão foram essencialmente hereditários.

Em março de 1924, o presidente turco, Mustafa Kemal Atatürk, aboliu constitucionalmente a instituição do califado.

 

Existem movimentos partidários de reviver o califado?
O Islã político defende a sharia como um sistema de vida, incluindo a política.

O fundador da Irmandade Muçulmana, Hassan al Bana, considerava o califado um símbolo da unidade islâmica e seu restabelecimento era o objetivo da organização, apesar de afirmar que o califado deveria ser precedido por um acordo de cooperação entre os estados muçulmanos.

O Hizb ut Tahrir (Partido da Libertação) é um grupo pan-islâmico criado em 1953, que defende a unificação dos países muçulmanos sob um califado.

 

Al-Qaeda queria estabelecer um califado?
"O grande sonho da Al-Qaeda era a criação de um Estado Islâmico desde os atentados de 11 de setembro", segundo Mustafá al Ani, do Gulf Research Centre.

Para os jihadistas, o anúncio do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) é apenas "o núcleo do califado, que se expandirá com a queda de outros estados", explicou.

Os talibãs instalaram em 1996, no Afeganistão, um emirado islâmico, que dirigiu o país até sua queda, depois da intervenção dos Estados Unidos em 2001.

 

O califado tem futuro?
Um estado islâmico poderá subsistir na atual conjuntura 'caracterizado pela fragilidade do poder em Bagdá e na ausência de uma intervenção estrangeira', afirma Ani.

Para manter-se, o califa deve "acabar com outros grupos islamitas que não sejam leais, castigar qualquer tentativa de insurreição popular, reforçar capacidades defensivas e generalizar os tribunais islâmicos", concluiu

Saiba quem é Abu Bakr al-Bagdadi, nomeado 'califa' pelo Estado Islâmico

Estado Islâmico (EI) anunciou 'califado islâmico'.
Para grupo, Bagdadi é 'chefe dos muçulmanos em todo o mundo'.

Foto divulgada pelo Ministério do Interior do Iraque
supostamente mostra Abu Bakr al-Bagdadi, líder
do Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL)
(Foto: AP Photo/Iraqi Interior Ministry, File)

Abu Bakr al-Bagdadi, o misterioso líder do Estado Islâmico (EI) designado "califa de todos os muçulmanos" no dia 29 de junho por seu grupo, distancia-se cada vez mais da Al-Qaeda e pode, em breve, se tornar o jihadista mais influente do mundo.

O Estado Islâmico anunciou a criação de um califado em amplas regiões conquistadas no Iraque e na Síria, em uma tentativa de restabelecer um regime político islâmico abolido há quase um século.

O grupo, já poderoso na Síria, faz, desde 9 de junho, uma ofensiva devastadora no Iraque. Mas seu líder continua sendo mais conhecido por uma personalidade misteriosa.

Nascido em 1971 em Samara, ao norte de Bagdá, Abu Bakr al-Bagdadi teria entrado para a insurreição no Iraque pouco depois da invasão liderada pelos Estados Unidos em 2003, e teria passado quatro anos em um campo de detenção americano.

As forças americanas tinham anunciado, em outubro de 2005, a morte de Abu Duaa - um dos pseudônimos de Bagdadi - em um ataque aéreo na fronteira com a Síria. Mas ele voltou a aparecer, bem vivo, em maio de 2010 à frente do Estado Islâmico no Iraque (ISI), braço iraquiano da Al-Qaeda, depois da morte de dois líderes do grupo em um ataque.

A estratégia americana de combater insurreições, combinada com os ataques de parte das tribos sunitas contra os jihadistas, havia enfraquecido o grupo.

Mas ele voltou a ganhar força, estendendo suas atividades para a vizinha Síria e rejeitando depois as ordens do chefe da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, de se concentrar no Iraque e deixar a Síria para a Frente Al-Nosra, um grupo jihadista que luta contra o regime de Damasco.

 

Comandante e tático
Em abril de 2013, Bagdadi anunciou uma fusão do ISI com os combatentes da Al-Nosra para formar o EI, mas estes se recusaram a ficar sob seu comando. Os dois grupos começaram a operar separados, antes de começarem a lutar entre si a partir de janeiro deste ano na Síria.

Poucos detalhes foram revelados sobre a personalidade de Bagdadi, ou sobre onde está. Os Estados Unidos, que o classificaram como terrorista em outubro de 2011, tinham declarado no ano passado que ele estaria provavelmente na Síria.

No fim de maio, um general iraquiano declarou que suas forças acreditavam que Bagdadi estava no Iraque, mas outras autoridades contestaram essa informação.

O rosto de Bagdadi foi apresentado apenas em janeiro, quando as autoridades iraquianas divulgaram, pela primeira vez, uma foto em preto e branco mostrando um homem barbado e calvo, usando terno e gravata.

O mistério que o cerca contribui para o culto a sua personalidade, e o YouTube tem vários cantos religiosos louvando suas virtudes.

No EI, ele é considerado um comandante e um tático presente no campo de batalha, ao contrário de Zawahiri, seu antigo superior e atual adversário, sobre quem ele ganha cada vez mais vantagem nas esferas jihadistas.

As habilidades atribuídas ao líder valem a adesão ao seu movimento de milhares de jihadistas vindos de todo o Oriente Médio, da Europa e de outras partes.

 

Veja a progressão dos jihadistas no Iraque desde a retirada dos EUA

Dois anos e meio depois da retirada das tropas americana do Iraque, o grupo extremista Estado Islâmico (EI) conseguiu se apoderar de uma parte do noroeste do Iraque, na fronteira com a Síria.

 

Desde o dia 10 de junho, os jihadistas tomaram a província de Nínive, no norte do país, incluindo sua capital Mossul – a segunda maior cidade do Iraque. Também invadiram setores em duas províncias próximas, Kirkuk e Salahedin, de maioria sunita.

Tomaram também Tikrit, 160 km ao norte de Bagdá, e seguem rumo à capital iraquiana.

O avanço do grupo no Iraque, favorecido pelo conflito entre a minoria sunita e os xiitas no poder, começou com a saída de tropas dos Estados Unidos, em dezembro de 2011. Ao longo dos anos, o EI foi progredindo em seu objetivo de formar um Estado islâmico na fronteira do Iraque com a Síria.

 

22 de dezembro de 2011: quatro dias depois da retirada americana, o Estado Islâmico no Iraque e Levante (como o EI era chamado), uma facção da Al-Qaeda, reivindica uma série de atentados em Bagdá que deixaram 60 mortos. O EIIL é dirigido por Abu Bakr al Bagdadi e foi formado depois da invasão americana em 2003.

Autor de inúmeros atentados que se intensificaram ao longo de 2012, o grupo se encontra basicamente nas províncias de Al-Anbar, Nínive e Kirkuk. Nesta zona, uma insurreição jihadista causou inúmeras baixas nas tropas americanas entre 2003 e 2006, principalmente em Fallujah e Ramadi (oeste de Bagdá).

 

21 de dezembro de 2012: a minoria sunita no Iraque, que se considera marginalizada pelo governo xiita, inicia manifestações em massa, que prosseguem durante todo o ano de 2013, principalmente na província de Al-Anbar.

Alimentada pela ira sunita e pelo conflito na Síria, a violência alcança seu nível mais elevado em cinco anos. Foram 9.475 civis mortos em 2013, segundo a ONG Iraq Body Count, o que faz temer a volta à sangrenta guerra interreligiosa de 2006-2007.

Os jihadistas atacam prisões e quartéis e colocam bombas em mercados, mesquitas e funerais. As forças de segurança iraquianas tentam reagir com operações antijihadistas. Washington se compromete em acelerar o fornecimento de mísseis Hellfire e de drones de vigilância.

 

2 a 4 de janeiro de 2014: os jihadistas controlam Fallujah e bairros de Ramadi. É a primeira vez que cidades importantes escapam ao controle de Bagdá desde a invasão americana. Quase 500 mil pessoas fogem dos combates, segundo a ONU.

Os jihadistas, alguns dos quais dizem pertencer ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), estão aliados a várias tribos sunitas hostis ao governo e aproveitam as zonas desérticas para se esconder.

Pouco antes das legislativas de 30 de abril, apesar do cerco militar a Fallujah, o EIIL consegue travar combates perto de Bagdá.

 

5 de maio: os insurgentes sunitas atacam Samarra (110 km ao norte de Bagdá), uma cidade simbólica desde que um atentado contra um mausoléu xiita da região desencadeou uma guerra interreligiosa em 2006-2007. O exército, ajudado por membros de tribos, recupera a cidade após combates sangrentos.

Um mês depois, os jihadistas atacam a universidade de Al-Anbar em Ramadi e Mossul, 300 km ao norte de Bagdá.

 

10 de junho: o EIIL e outros jihadistas se apoderam de Mossul e de sua província petrolífera de Nínive, provocando o êxodo de 500 mil pessoas, assim como de setores em duas províncias próximas, Kirkuk e Salahedin. No dia 11, tomam Trikrit, capital da província de Salahedin e ex-reduto de Saddam Hussein.

O primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, decide armar os cidadãos para lutar contra os insurgentes. O líder xiita Moqtada Sadr, cujos homens lutaram contra o exército americano, pediu a formação de brigadas de defesa de locais religiosos.

 

12 de junho: os jihadistas estão a menos de 100 km de Bagdá, depois de se apoderarem da cidade de Dhuluiya.

 

29 de junho: os jihadistas sunitas proclamam a criação de um califado nas regiões tomadas no Iraque e na Síria, na tentativa de restabelecer o regime político islâmico abolido há quase um século. Convocam todos os muçulmanos a jurarem lealdade ao chefe do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Bagdadi, que é proclamado o califa – considerado por seus seguidores o sucessor do profeta Maomé e líder soberano dos muçulmanos.

 

2 e 3 de agosto: em 48 horas, os jihadistas do Estado Islâmico se apoderam de várias zonas controladas pelos curdos na região de Mossul, em um grave revés para as forças curdas, que gozavam de grande reputação por sua eficácia e organização.

 

4 de agosto: Os jihadistas anunciam que vão ampliar sua ofensiva no norte do Iraque sobre os territórios controlados pelos curdos.

 

5 de agosto: A Unicef afirma que 40 crianças da minoria étnica e religiosa yazidi foram mortas durante ataque dos insurgentes em Sinjar, na região autônoma curda no norte do Iraque. Um grupo de mais de 40 mil yazidis teve de deixar suas casas para fugir da violência dos jihadistas. 

 

6 de agosto: combatentes curdos do Iraque, Síria e Turquia iniciam uma ofensiva conjunta contra os jihadistas na região de Mossul, no norte do Iraque.

 

8 de agosto: o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anuncia que o país vai intervir no avanço do Estado Islâmico no Iraque. Três anos após retirar suas tropas, os Estados Unidos começam bombardeios com o objetivo de reduzir o poder de fogo do grupo jihadista e facilitar as ofensivas por terra de forças curdas.

 

10 de agosto: após os bombardeios americanos contra os jihadistas, os curdos conseguem retomar duas cidades no norte do Iraque que haviam sido tomadas pelo Estado Islâmico.

 

12 de agosto: A ONU alerta para o risco de genocídio da minoria yazidi, que ficou isolada nas montanhas do norte do Iraque após a ofensiva jihadista na região de Sinjar. Sem águar e sem comida, eles passaram a receber ajuda humanitária de aviões americanos e britânicos.

Membros do grupo jihadista fazem guarda em ponto da cidade de Mossul, no norte do Iraque (Foto: REUTERS/Stringer)

 

Entenda o que facilitou o avanço de grupo jihadista no Iraque

Estado Islâmico é menos numeroso do que suas ações sugerem.
Em dois meses, grupo se apoderou de vastos territórios iraquianos.

Imagem publicada em site militante em 14 de junho mostra integrantes do Estado Islâmico ameaçando soldados iraquianos capturados em Tikrit. (Foto: AP Photo via militant website)

 Os jihadistas do Estado Islâmico (EI) são menos numerosos do que sugerem a magnitude e a rapidez de suas conquistas no norte do Iraque, afirmam os especialistas, que identificam cinco chaves para explicar seu avanço.

Em dois meses de ofensiva, os jihadistas se apoderaram de vastos territórios iraquianos e mais recentemente tomaram dos curdos várias cidades da região de Mossul.

No entanto, estes combatentes, aos quais ninguém consegue deter, são apenas alguns milhares. A razão de seu êxito não reside em sua força, mas em outros motivos:

 

As armas em seu poder
O EI dispõe de tanques, veículos militares "Humvee", mísseis e outros tipos de armamento pesado. Trata-se de material principalmente de fabricação americana e abandonado pelo exército iraquiano ao bater em retirada no início da ofensiva dos jihadistas.

"Acumularam grandes quantidades de equipamento de que precisavam", segundo Anthony Cordesman, do Centro para os Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington.

 

A experiência síria
Embora o EI tenha nascido no Iraque – em 2004 com outro nome –, foi seu envolvimento no conflito sírio o que lhe permitiu se converter no poderoso grupo atual.

"Os combates na Síria ofereceram ao EI treinamento e oportunidades de aprendizagem excepcionais", ressalta o grupo americano Soufan, especializado em serviços de inteligência.

O EI, presente desde 2013 na Síria, onde combate o regime, mas também os rebeldes, tem agora uma reputação de grupo sanguinário, com combatentes que não temem morrer.

 

Lutas estratégicas
Para seus combates, os jihadistas priorizam as zonas sunitas onde podem angariar apoio, infraestruturas estratégicas ou locais defendidos, minimizando, assim, as perdas para manter sua unidade.

"Percorreram uma distância considerável nos últimos dias, mas em zonas muito pouco povoadas onde encontraram pouca resistência", estima John Drake, do grupo AKE.

Além disso, "um dos pontos fortes do EI é fazer seus inimigos fugirem quando eles já foram debilitados", ressalta Michael Knights, especialista do Washington Institute.

 

Uma propaganda eficaz
A ofensiva do EI sempre é precedida por sua reputação de extrema brutalidade, o que lhe permite se apoderar de cidades inteiras sem encontrar resistência.

Seus membros, que dominam a internet e as redes sociais, divulgam principalmente fotografias de seus inimigos decapitados. Os jihadistas divulgam uma imagem de crueldade quase sobre-humana, segundo Patrick Skinner, do grupo Soufan.

Em Sinjar (norte), os civis, em pânico, abandonaram a cidade quando o EI anunciou sua entrada iminente. "A intimidação é uma tática importante para o EI", segundo Drake. "Embora não utilizem todas as armas que tomam, as fotografam com fins de propaganda", acrescenta.

 

Opositores fracos
Mas é sobretudo a debilidade de seus opositores o que permite o avanço do EI.

"Os peshmergas (forças curdas iraquianas) são muito bons (em relação às outras forças iraquianas), mas seus recursos de infantaria são escassos. Os que têm experiência combatendo Saddam Hussein saíram", explica Cordesman. Além disso, os curdos têm problemas financeiros.

O exército iraquiano, que tenta se recompor após a debandada dos primeiros dias de ofensiva, também não consegue enfrentar o EI. "O EI revelou lacunas patéticas de seus oponentes, para começar o espetáculo realmente lamentável do exército iraquiano", segundo Soufan.

Decapitações, crucificações, execuções sumárias: o horror imposto pelos jihadistas no Iraque e na Síria

 

Selvageria do EIIL afastou até mesmo a Al Qaeda.

Imagem divulgada pelo site jihadista Welayat Salahuddin mostra militantes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) ao lado de dezenas de iraquianos membros das forças de segurança antes de serem executados em um local desconhecido - EFE/Welayat Salahuddin/EFE

Nem mesmo crianças são poupadas da fúria selvagem dos jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL). O avanço do grupo terrorista obrigou os Estados Unidos a atacarem o território iraquiano pela primeira vez desde a retirada das tropas, em 2011. Execuções sumárias, decapitações, amputações e crucificações compõem um modus operandi de brutalidade incomensurável, que faz empalidecer até mesmo a violência da Al Qaeda.  

Ao ordenar a ação, o presidente Barack Obama mencionou a necessidade de ajudar a minoria yazidi, que foi encurralada pelos terroristas em regiões montanhosas de Sinjar, onde estão morrendo de fome e sede. Essa minoria segue uma religião pré-islâmica que o EIIL vê como ‘demoníaca’. “Crianças estão morrendo de sede, enquanto isso, o EIIL pede a destruição sistemática de toda a população yazidi, o que constituiria genocídio”, disse Obama.

Em Raqqa, na Síria, o grupo expôs as cabeças de várias vítimas em postes. Em uma das gravações da selvageria postadas no YouTube, um cristão é forçado a se ajoelhar, cercado de homens mascarados que o forçam a se ‘converter’ ao Islã. A vítima é decapitada. Em outro vídeo, um narrador afirma que os corpos expostos são de soldados sírios.

Depois de proclamarem a criação de um Estado islâmico em um vasto território entre a Síria e o Iraque, extorquindo os que quiserem ‘proteção’, os jihadistas divulgaram uma lista de regras para moradores da província de Nínive, no noroeste iraquiano. O jornal The Washington Post reproduziu algumas delas: “todo muçulmano será bem tratado, a menos que esteja aliado com opressores ou ajude criminosos”; “qualquer pessoa que roube ou saqueie enfrentará amputações”; “rivais políticos ou armados não serão tolerados”; “policiais e militares podem se arrepender, mas quem insistir em apostasia será morto”; “a lei da sharia será implementada”; “sepulturas e santuários serão destruídos”; “as mulheres são informadas de que a estabilidade está no lar e, por isso, não devem sair sem necessidade. Elas devem estar cobertas com vestes islâmicas completas”. E ainda, um ‘conselho’: “seja feliz por viver em uma terra islâmica”.

A força mais incivilizada em ação no Oriente Médio usa a violência chocante também como apelo para recrutar radicais islâmicos ao redor do mundo. No Instagram, um jihadista britânico escreve, abaixo de uma foto em que um homem aparece ao lado de várias cabeças decepadas e um esqueleto falso: “Nosso Irmão Abu B do Isis posa com seus dois troféus depois da operação de ontem. O esqueleto não é real”.

A maioria dos recrutados são jovens. E uma nova geração de jihadistas está sendo preparada. A revista Vice divulgou um vídeo em sua página na internet no qual uma criança belga diz ser do Estado Islâmico e afirma que não quer voltar para a Bélgica porque lá há “infiéis que matam muçulmanos”. Ele fala de maneira relutante, ao lado do pai, membro do EIIL. “O que você quer ser, um jihadista ou executar uma operação suicida?”, pergunta o pai. “Jihadista”, responde o menino.

 

Avanço jihadista fez Estados Unidos voltarem a intervir no Iraque

Há três anos, tropas americanas foram retiradas de país do Oriente Médio.
Para conter crise, Estados Unidos podem atuar em conjunto com o rival Irã.

Avião militar dos Estados Unidos decola de porta-aviões no Golfo para missão no Iraque. (Foto: Lorelei Vander Griend/Marinha dos EUA/AFP)

 O avanço dos jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) provocou a reação dos Estados Unidos, que voltaram a intervir no Iraque, três anos após a retirada de suas tropas do país.

Nos dias 8 e 9 de agosto, aviões americanos fizeram os primeiros bombardeios nos arredores da cidade de Erbil, capital do Curdistão, que tiveram como alvo unidades de artilharia e comboios militares do grupo extremista. O objetivo é reduzir o poder de fogo dos terroristas para a reação das tropas curdas, que fazem ofensivas por terra.

Também foram enviados centenas de soldados americanos, em caráter de urgência, para apoiar o governo iraquiano no combate aos insurgentes.

A crise no Iraque pode resultar ainda em uma ação conjunta dos Estados Unidos com o inimigo Irã – algo que não acontece desde a revolução iraquiana de 1979 e que demonstra a preocupação com o avanço do Estado Islâmico no país.

 Cresce apoio nos EUA aos ataques contra o EI após decapitações de americanos

Voluntário Xiita da milícia Hezbollah aponta seu rifle durante combate contra militantes do Estado Islâmico - 01/09/2014 - EFE

As decapitações de dois jornalistas americanos pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI) provocaram um giro na opinião pública dos Estados Unidos, que agora apoia majoritariamente o ataque aos extremistas no Iraque e na Síria, segundo uma pesquisa divulgada nesta terça pelo jornal Washington Post e pela emissora ABC News. Quase três quartos dos americanos (71%) está a favor dos bombardeios contra posições do EI no norte do Iraque iniciados há um mês pelos EUA, contra 54% dos que apoiavam a ação há três semanas e os 45% em junho.

Além disso, 65% dos cidadãos apoiam uma ação muito mais efetiva, com o uso de tropas terrestres. Mas o governo de Barack Obama resiste em empreender uma operação deste tipo por enquanto. Após as últimas semanas, nas quais as impactantes imagens das decapitações de James Foley e Steven Sotloff terem comovido os Estados Unidos e o mundo, os americanos consideram o EI é uma ameaça séria. A opinião é compartilhada por nove de cada dez cidadãos, enquanto seis de cada dez percebem o grupo islamita como uma ameaça muito séria.

A pesquisa foi divulgada na véspera do anúncio de Obama da estratégia para combater o Estado Islâmico, depois de se reunir hoje com os líderes do Congresso em um momento em que ele é acusado por republicanos e até democratas de atuar com muita cautela diante da ameaça terrorista. Entre os americanos que consideram que Obama não atuou com suficiente determinação nesta crise, 82% apoiam os ataques contra o EI, enquanto entre os que acham que sua gestão foi correta, 66% estão a favor dos bombardeios. O presidente americano recebeu críticas especialmente em dois momentos da gestão da crise no Iraque e na Síria: quando disse recentemente que ainda não tinha uma estratégia para conter o EI e quando prosseguiu suas férias jogando golfe após Foley ter sido condenado a morte diante da nação.

 

Coalizão contra o EI – O secretário americano de Estado John Kerry disse nesta segunda que a coalizão contra o grupo jihadista EI está destinada a durar "meses e até anos". Kerry celebrou o início de uma nova era no Iraque com a formação de um novo governo de unidade proposto pelo primeiro-ministro, Haidar al Abadi. O secretário de Estado viajará nesta terça-feira à Jordânia e à Arábia Saudita como parte de um giro destinado a consolidar a coalizão internacional. Ao menos 40 países já confirmaram sua participação, em diferentes formas nesta coalizão, assinalou a porta-voz do departamento de Estado Jennifer Psaki.

Outros contribuirão com ajuda humanitária para os civis na mira do EI, ajudando a obstruir seu financiamento, detendo o fluxo de combatentes estrangeiros para Iraque e Síria e contra-atacando a propaganda do EI. Entre os países que já declararam seu apoio à coalizão estão Austrália, Canadá, Grã-Bretanha, França e Emirados Árabes Unidos. Segundo funcionários americanos, nações como Albânia, Estônia, Dinamarca, Finlândia e Japão prometeram ajuda financeira para assistência humanitária a refugiados civis. Kerry advertiu que a luta contra o EI poderá ser demorada e terminar apenas na próxima administração da Casa Branca, a partir de 2017.

O grupo extremista lançou uma ofensiva em 9 de junho para invadir cidades no norte do país e avançar em direção à capital Bagdá. Seu objetivo é criar um estado sunita na fronteira do Iraque com a Síria.

No seu avanço pelo Iraque, tem investido contra xiitas, curdos, yazidis e cristãos. Aos que encontram pelo caminho, o Estado Islâmico dá a opção de “se converter ou morrer”.

O grupo também controla regiões na Síria, país que vive uma guerra civil há três anos.

 

Genocídio
O Conselho de Segurança da ONU pediu uma ação internacional urgente no Iraque para conter a violência do Estado Islâmico e impedir o massacre da minoria religiosa yazidi.

Expulsos de suas casas, eles estão isolados no Monte Sinjar, no norte do Iraque, recebendo água e alimentos de aviões americanos e britânicos. Desesperados, alguns chegaram a invadir um helicóptero que levava ajuda humanitária.

Cerca de 100 mil cristãos fugiram para a região do Curdistão, se refugiaram em igrejas ou em prédios abandonados para não serem mortos pelos jihadistas.

A ONU pediu ainda que não se subestime o grupo extremista, já considerado tão ou mais perigoso que a rede terrorista Al-Qaeda.

“Tanto o governo iraquiano quanto a comunidade internacional são responsáveis por proteger as populações em ricos de sofrer crimes atrozes”, declarou a especialista em direito das minorias da ONU, Rita Izsak.

 

Guerra
Eleito com a promessa de trazer de volta para casa os soldados em missão no território iraquiano, o presidente americano, Barack Obama, disse que não quer uma nova guerra no Iraque. “Não vamos enviar soldados para lutar em terra”, afirmou Obama ao anunciar a intervenção no país do Oriente Médio.

 

ONU: Estado Islâmico quer criar 'mundo sanguinário'

O novo comissário de direitos humanos da ONU, Zeid Ra’ad Hussein, afirmou que os terroristas do Estado Islâmico querem criar um “mundo sanguinário” no Iraque e na Síria. “Eles acreditam que estão agindo corajosamente? Massacrando reféns de maneira bárbara? Eles apenas revelam como seria um Estado takfiri (termo que designa extremistas sunitas). Seria um mundo cruel, mal-intencionado, um mundo sanguinário onde não haveria sombra ou refúgio para os que não forem takfiri”.

“Na mentalidade takfiri, como vimos na Nigéria, no Afeganistão, no Paquistão, no Iêmen, no Quênia, na Somália, no Mali, na Líbia, na Síria e no Iraque, não há amor ao próximo, apenas a aniquilação dos muçulmanos, cristãos, judeus e outros, que, junto com o restante da humanidade, têm uma crença diferente da deles”, acrescentou.

Em seu primeiro discurso na abertura da 27ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra, Hussein classificou como “prioridade imediata e absoluta” o fim dos conflitos no Iraque e na Síria, onde os jihadistas “demonstraram sua indiferença absoluta e deliberada aos direitos humanos”. Ele defendeu a formação de um novo governo no Iraque e a entrada do país no Tribunal Penal Internacional para assegurar que criminosos sejam responsabilizados.

 

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